Tão inevitáveis e indesejadas quanto uma crónica do Carlos Castro, aí estão as previsões para dois mil e nove, para me fazerem acordar a meio da noite a reflectir como é que nós, Humanidade, esperamos evoluir com estas manias do ano novo, manias essas que podem ser divididas em dois grupos. O primeiro, de quem começa o ano a apontar previsões para o novo ano, algo irrisório, porque nem é necessário explicar como não é possível fazer previsões para algo tão destituído de razão, lógica ou intuição quanto a Vida. E em segundo, quem começa o ano a apontar quem aponta previsões, algo num patamar ainda maior de inutilidade, como se fosse, enfim, necessário explicar que não é possível fazer previsões para algo tão destituído de razão, lógica ou intuição quanto a Vida! Felizmente que existo eu, o terceiro género, aquele que aponta tanto quem aponta, como os que apontam quem aponta.
Nisto do Ano Novo sobejam, de resto, duas questões. A primeira porque não se percebe como, tendo o ano trezentos e sessenta e cinco dias divididos em doze meses, isto dos mais sinceros votos de um espectacular ano seja deixado, no máximo, até ao segundo dia do primeiro mês do ano. E os restantes trezentos e sessenta e três dias, não contam? Porque é que ninguém me deseja um máximo ano, sei lá, em Agosto, quando está um tempo muito mais agradável e muitos mais decotes andam por aí? Não pode haver melhor altura para deixar os votos de um inefável ano que durante o Verão, quando anda toda a gente leve e airosa, mas insistem nesta patranha de deixar os votos de um inenarrável ano durante o Inverno, quando chove, andam todos carrancudos e o metro de Lisboa é um inferno pegajoso de humidade.
Mais ainda, porque não se percebe exactamente que votos de um "bom" ano são esses, um voto tão críptico e rebuscado que se torna óbvio que quem o lança não tem qualquer noção de operacionalização de conceitos, delineação de estratégias, ou sequer visão de médio e longo prazo. Não basta lançar votos, é necessário perceber exactamente o que se percebe por isso de "bons" votos, como desenhar uma estratégia de convergência dos diversos actores sociais na busca desses objectivos, e em que intervalos de tempo se devem questionar e quantificar os objectivos propostos. Sem isso, são apenas votos a abençoar a minha vida nos dois primeiros dias do ano e a amaldiçoá-la nos restantes trezentos e sessenta e três. É por isso que não vou aqui deixar nada disso de um trascendente ano para todos, não, os meus votos vão para o que realmente importa: para todos uma grandiosa vida de óptimos empregos e sexo espectacular.