Agora que o sonho acabou e a armada germânica derrotou a milícia lusitana, é a altura de lançar umas ideias, e convém dizer que qualquer consideração técnica e estratégica sobre futebol passam-me ao lado como balas do Matrix, porque nem foi há muito tempo que me explicaram o ter o Ricardo Carvalho a central e como isso influencia o modelo de 4x4x2 do Scolari. A não ser, claro, que o modelo seja o 4x3x3 e eu continue sem perceber. Mas porque aprecio os bastidores de conluio, corrupção e chavascal que rodeiam o fascinante mundo da bola, vamos lá.
- uma selecção de futebol é factor de divulgação do país: não tenho acesso aos avançados estudos de correlação futebol / indicadores sócio-económicos, mas será um argumento tão falacioso quanto a modelo que namora um jogador aumentar o valor da sua imagem. Sim, Merche, estamos a olhar para ti, tão valorizada enquanto andavas com o puto e tão chateada quando romperam e as agências diminuíram em muito os teus cachet! Uma país cria verdadeira divulgação, e não um pico orgásmico de um par de semanas, quando as empresas têm condições económicas de se fixarem no território e os turistas tem condições de acolhimento, algo que escapou por completo à grega que nos acompanhou durante os Santos Populares;
- é um dever patriótico apoiar os "Viriatos": se isto fosse o filme "Superman Returns", este seria o momento em que um Kevin Spacey careca berrava "WRONG!". Parece-me um pénis de argumento achar que por todos estarem tão lacrimejantemente preocupados com os jogadores, eles hão-de ficar tão preocupados com todos, o que fica ainda mais parvo quando dois dias antes dos jogos se resmunga que "tudo neste país é uma merda". Mas posso ficar convencido no dia em que vir alguém chorar baba e ranho por o Nuno Delgado falhar a final dos Olímpicos;
- o futebol é um propulsor de energias políticas e financeiras: o Euro 2004 podia ter sido uma oportunidade se tivessem considerado o que fazer com os estádios no após, se o evento fosse por todo o país em vez de ser enfiado no litoral, se houvessem ideias interessantes como deixar Benfica e Sporting a partilhar um mesmo estádio em vez de torrar duas mega-estruturas. Esta ideia deixaria a espumar os mais histéricos, como quem berrou o João Pinto como um símbolo vitalício da Luz que nunca iria sair, meses antes de ele mandar copular a todos e mudar-se para Alvalade, mas é isso que Inter e AC fazem no estádio de San Siro. E que dizer de exemplos como o Beira-Mar, com o estádio construído tão longe da cidade que torna ainda mais difícil a rentabilização, tornando o espaço um vórtice de mil euros diários que não sobrevive sem a autarquia, que não irá deixar cair uma instituição tão "fundamental" quanto aquela equipa.
Mas isto tem de ser o artigo mais inútil que escrevi. Já se fala na hipótese de uma candidatura conjunta com Espanha ao Mundial de 2018, uma ideia tão interessante quanto limparem-me o rabo com lixa de madeira, mas todos irão defraldar as bandeiras e exigi-lo, porque é uma oportunidade única, porque não se pode desprezar a imagem projectada, porque as oportunidades para a criação de empregos são imensas, ainda que a maioria destes vá para os imigrantes de Leste e de África nas obras e os licenciados servirem à mesa os visitantes. Esta semana o José Lello defendeu num debate da RTP o Euro 2004, argumentando que não tinham existido derrapagens orçamentais nos estádios e sim nas envolventes, mas que estádios e envolventes eram coisas distintas que não podiam ser confundidas, um argumento que prova que uma pessoa e um cérebro também são coisas distintas que não devem ser confundidas.