Quando um director do [inserir aqui entidade bancária completamente irrelevante] entrou em contacto por telefone e, num contexto altamente profissional, esclareceu que procedimentos são para as outras pessoas, não para alguém do seu gabarito e estatura, admito que hesitei em lhe perguntar se queria apenas ser adorado a partir de um altar de ouro e incenso, ou se também desejava que lhe executasse um sexo oral de elevada qualidade, mas não o fiz, sendo eu, como seria de esperar, um indivíduo altamente competente e profissional. Ou minto, porque também admito ter reflectido profunda e seriamente, naqueles três ou quatro milésimos de segundo entre a resposta e a acção, se não teria conhecimento de ele, e outros como ele, serem os responsáveis pela actual crise económica e financeira, ao permitir um sistema onde gestores são recompensados por resultados e não responsabilizados no momento de comprovar quem é que andou a fazer caca. Mas também não o fiz, para começar porque não faria a mínima ideia do que estava a falar, para continuar porque estaria apenas a debitar as crónicas do Miguel Sousa Tavares, que me parece daquele género de pessoa que lê coisas sérias e informa-se e pesquisa antes de debitar a primeira parvoíce que lhe vem à cabeça. Não como eu, claro, que a única que leio são as histórias do Tio Patinhas do Don Rosa, e é por isso, apenas por isso, que não sou eu do outro lado do telefone a admitir como sou tão inacreditavelmente poderoso e espectacular. E choro, choro como uma criança por isso.