Há sempre um momento na minha vida em que alguém me tenta convencer que há quem esteja muito pior. Assaz, concedo, não devo jamais esquecer quem trabalha no Pingo Doce e é obrigado a levar com aquela história do, goste ou não, e não gosta, de certeza que não gosta, venho ao pingo doce de janeiro a janeiro, pelas oito horas do expediente. Música no mesmo sentido em que o estardalhaço provocado por deixar cair ao chão todo o serviço da Vista Alegre da minha mãe poderia ser considerado música, i.e., nenhum, e contagiante no mesmo sentido em que uma gripe, gripe normal, gripe de macho, não essa mariquice de nova gripe que anda para aí a ser alardeada como a nova peste bubónica e se está a revelar não mais que um flato, incómoda, sem dúvida, mas inofensiva, pode ser considerada contagiante. Ou contagiosa, sim, se por acaso quem me lê perceber que estou a deturpar o sentido dos termos para melhor encaixar a dicotomia música do pingo doce, i.e. gripe, i.e., contagiante/contagiosa, pode fingir que está a ler um texto do Eça de Queirós e escrever uma tese de pós-doutoramento sem nenhuma relevância no actual contexto sócio-económico acerca da deformação do significado dos termos enquanto potenciador da expressividade do artista. E se quem lê considera que estou a ser um idiota ao comparar-me ao Eça, pode também fingir que está a ler um texto da Linda Reis e que reencarnei o imortal poeta tal como a stripper encarnou a não tão imortal princesa Diana. E olhem que a Linda Reis até foi ao programa do Herman à pala disso, enquanto eu me fico por uma participação de exactos vinte e quatro fotogramas num filme do Mário Augusto e de rigorosos alguns segundos num sketche do Contra, portanto alguma isso da reencarnação coisa deve render. Vou apontar na agenda para mais tarde verificar. Tudo é mais fresquinho, tudo tem mais sabor.