À entrada, fileiras de jovens ansiosos agitavam os telemóveis, discutiam o programa, enfileiravam-se para a fotografia. Os seguranças esforçavam-se por manter a ordem, entre ordens berradas e exigências de identificação. De viaturas de alta cilindrada, saíam figuras conhecidas que agitavam as hostes ululantes. "Olha, aquele não é...?". "É, sim! E está com o...!". O último Sporting - Benfica? O concerto dos Tokyo Hotel? Não, era mesmo o plenário da Assembleia da República, a instituição onde todos os dias (excepto fim-de-semanas, feriados e finais da Liga dos Campeões entre Porto e Mónaco), se decidem os destinos do país, por entre intricadas reviravoltas legislativas e complexas argumentações lógico-dedutivas. E antes de começar, nenhuma das reconhecidas deputadas do BE, Ana Drago ou Joana Amaral Dias, estavam presentes. Facto que, esse sim, merecia um minuto de silêncio e profundo pesar, não aquilo do professor Joel Serrão. Enfim, critérios.
De resto, uma desilusão. Repare-se que, apesar da importância dos assuntos debatidos, nem um único insulto foi proferido contra os deputados. Nem um "Isto é um escândalo!" disparado das bancadas. Nem ao menos uma cuspidelazinha para o hemiciclo. Para mim, que já tinha ensaiado toda uma orquestra que ia desde o "Muito bem, muito bem!" até ao "Malandros! Isto é tudo uma cambada!", nada restou que não um vazio no coração. Ah, sim, três anos de prisão para quem fizer desacatos, explicitamente explicado no folheto entregue à entrada, mas mesmo assim, um escândalo!, que tudo seja tão civilizado. Outra foi Santana Lopes. O preconceito que tinha metia Jerónimo de Sousa como um homem aguçado pela vida, Francisco Louçã como alguém de argumento afiado, e o líder da bancada do PSD como um homem de presença, de postura delineada pela Caras e pela Cinha e pelos colos. Se os líderes da esquerda até confirmaram as ideias, o líder da bancada do PSD caminha encurvado, atrofiado, a cabeça baixa, o olhar de animal assustado. Talvez haja toda uma série de divertidas observações para este facto, mas a verdade é que não me ocorre nenhuma.
E quanto ao Governo? Ninguém estava presente. O que é prova mais que suficiente que estavam, todos eles, numa praia ensolarada nas Bahamas, a beber pinas coladas enquanto se riem do lusitano povo que lhes está a pagar as férias. Malandros. É tudo uma cambada!